O BRAILLE E EU
Numa
ocasião achavam-se reunidos os professores da rede municipal de Itanhaém, era
dia de reunião e capacitação dos mesmos e naquela sala quente e pouco arejada
alguém chamou a atenção da professorinha Sara.
Sara
era uma mulher sonhadora que gostava de descobrir novas formas de ensinar e
percebeu que uma das professoras era sobremodo diferente, não que fosse um E. T.,
mas era diferente das demais.
Ficou
ali observando-a cabelos curtos, olhos castanhos, gestos precisos, voz delicada
e de firmeza impar; pareceu-lhe que a olhava também, entretanto: "por que
não respondera ao seu gesto?"; "será que não gostava de pessoas
tagarelas?"; "talvez tenha estado desatenta e a mulher a houvesse
cumprimentado e estando atenta a outros detalhes não notara... era isso, só
podia ser isso".
Maria
Isabel apresentou-se era a pedagoga Isabel que ministraria aulas do Sistema
Braille aos interessados, estaria a disposição para responder às questões
pertinentes e assim que acabara a reunião fora abordada por muitos, então Sara
a deixou para falarem outro dia.
No dia
marcado estava Sara e muitos outros alunos na primeira aula de Braille, na
ocasião Isabel contou-nos um pouco dela mesma e como sendo cega era
independente, mãe, pedagoga, professora e enfim, vencedora.
Sara e
os demais alunos viam ali um exemplo de ser humano vencedor e humilde; as aulas
eram ministradas todas as quintas-feiras das sete às nove e por incrível que se
possa parecer Sara, Marlene, Adriana, Daniele e muitos outros alunos eram
pontuais e ao final de alguns meses estavam com seus certificados em mãos.
Marlene
usou seus saberes para aprimorar seu currículo, Adriana para acrescentar em
seus conhecimentos, Daniele aprendeu a usar seus novos conhecimentos em seus
trabalhos manuais e Sara quis ir além, apresentou a Unidade Escolar onde
lecionava um projeto de leitura inclusiva que tinha por objetivo promover a
possibilidade de alunos visuais e auditivos perceberem o mundo sinalizando
(utilizando a Linguagem Brasileira de Sinais - LIBRAS) e adaptando formas de
utilizar o Sistema Braille, respeitando e valorizando o limite individual,
porque esse diferencial é que norteava o principio do saber.
O
Sistema Braille adquiriu nova roupagem na sala de aula, os alunos adaptavam
materiais recicláveis e escreviam bilhetes entre si e por fim, escreveram um
convite à pedagoga Isabel, professora de sua professora em Braille.
Carta
recebida, lida e respondida (em Braille) a emoção tomou conta, porque a
"professora cega" (pseudônimo que recebeu carinhosamente em LIBRAS) iria
visitar a sala da professora Sara e lá os educandos tiveram contato com seus
nomes datilografados em Braille, puderam utilizar a máquina Braille, perguntar
e elucidar suas possíveis dúvidas quanto ao mundo magnífico dos cegos.
Ficaram
todos tão extasiados que um dos alunos escreveu em sua autoavaliação mensal o
quanto achou relevante aquele momento e desde então a pedagoga Isabel, a
"discípula" Sara e seus pequenos "discípulos" têm tido
contato com o Sistema Braille e não o temem como muitos o fazem por pura
ignorância.
Ao
invés de temer vamos desbravar o desconhecido porque na maioria das vezes eles
nos proporcionam momentos indescritivelmente INCRÍVEIS, MAGNÂNIMOS, enfim
ÚNICOS.
SERES
ÚNICOS E PORTANTO ESPECIAIS!
Maria Isabel e eu (prô Sara) |
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